É o teu rosto que me protege do vazio
ele traz a luz primordial de todas as coisas vivas
que se debatem no mundo a fugir da morte
Espero-te violentamente
Evito visitar-me quando tu não estás
Porque há um mundo de precipícios em queda dentro de mim
em que não me convém demorar
(E a noite é uma longa espera quando tu não estás)
Enquanto espero passo a noite a escrever-te
Encho paginas inteiras de ti
(o sabor da tua pele)
O desejo vai-me movendo as sílabas de uma palavra para outra
Tu és o seu corpo em cada sílaba que profiro
trago-te obsessiva
na respiração das coisas
desde que acordo
até me que me deixo vencer pelo cansaço
e adormeço só para te reencontrar
outra vez nos meus sonhos
(diz-me para onde vais tu quando não estás comigo?...)
Olha,repara, é um fio do teu cabelo no meu pente
encontrei-te nas coisas da casa
nos talheres
nos copos
nos cremes que me esqueço de usar
nos livros que desarrumo e não leio
Nos teus cd’s favoritos
Que não me canso de ouvir
na maneira como compões o meu minúsculo espaço
grande quando tu entras nele e o tornas teu
e...
em tudo o que ficou
em tudo o que será
naquilo que não sei nomear
(sim é o medo)
No que não traz sentido
E onde nos revejo
com toda a clareza
Mas trago-te também na alegria das flores
no cheiro do café da manhã
no sabor do pão quente com manteiga
no jornal matutino aberto sobre a mesa
Tudo me fala de ti
Tudo tem sabor a ti...
Continuo à espera
Quero impossíveis
Não sei ser doutro modo...
Vais ter de te conformar à ideia
De que sou lamentavelmente lírica e incompetente
nisto das relações pessoais e já agora em tudo o resto também
já te tinha dito que comigo não vais a lado nenhum, não tinha?...
...Mas eu sou tudo quanto tenho para te oferecer...
E Tu és um mau habito que se entranhou na pele
Sim eu gostava de poder regressar ao sitio onde te encontrei
Onde me revelei
E poder virar-te as costas
Ou matar-te ali mesmo
de esquecimento
E prosseguir incólume
Alheia a ti
E ao teu feitiço
E nunca mais magoar-te também...
Entretanto espero pela madrugada chegar
Escrevo-te pela noite fora
(é melhor enfrentar as horas assim, acredita)
Pressinto-te até nos estalidos
daquilo que é diário e quotidiano
e que me contraria até à exaustão
E que só não me enlouquece de fúria
Porque existes tu e a tua ternura
do outro lado das coisas
a apaziguar
no fundo impronunciável de todas as coisas
existes tu
Vejo-te partir e voltar
Onde antes era eu a fazer isso...
mas tu trocaste-me as voltas
E este meu oficio de viver
É-me cada vez mais difícil de levar…
Partes e estás
em tudo o que me rodeia
Voltas e sabes-me a pouco...
Mas amanhã
Quando voltares
Serei o teu bichinho de estimação
Enroscar-me-ei no mais fundo de ti
Só para me anular
Resolverei assim todas as minhas psicoses?...
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