sábado, 30 de novembro de 2013
ter ou não ser...
Tu tens e julgas que és e eu não tenho e começo a acreditar que não valho nada porque sou como tu mas sem nada de meu comigo para me acompanhar, sou só eu e a minha solidão envergonhada. Mas qual de nós o mais só, tu que não me olhas ou eu que não sou olhado? estou tão sozinho como tu que passas e finges não me ver só para não te veres igual a mim...a única diferença está no ter e o que nos define enquanto sociedade é to have or not to be, right?...e por muito que tenhamos não somos nada se não soubermos ser uns com os outros. Assim não és diferente de mim, és tão ou mais miserável do que eu, por isso finges não me ver ao passares por mim...é o medo de descobrires que, apesar de todas as coisas que possuis (e que te vão possuindo), não passas, bem lá no fundo de ti, de mais um sem abrigo...
terça-feira, 26 de novembro de 2013
my candle
- It will not last the night;
- It gives a lovely light!"
Edna St. Vincent Millay
I know. But I do not approve. And I am not resigned.
" I am not resigned to the shutting away of loving hearts in the hard ground.
So it is, and so it will be, for so it has been, time out of mind:
Into the darkness they go, the wise and the lovely. Crowned with lilies and with laurel they go; but I am not resigned. Lovers and thinkers, into the earth with you.
Be one with the dull, the indiscriminate dust.
A fragment of what you felt, of what you knew,
A formula, a phrase remains, --- but the best is lost.
The answers quick & keen, the honest look, the laughter, the love,
They are gone. They have gone to feed the roses. Elegant and curled
Is the blossom. Fragrant is the blossom. I know. But I do not approve.
More precious was the light in your eyes than all the roses in the world. Down, down, down into the darkness of the grave
Gently they go, the beautiful, the tender, the kind;
Quietly they go, the intelligent, the witty, the brave.
I know. But I do not approve. And I am not resigned.."
Edna St. Vincent Millay
domingo, 24 de novembro de 2013
Sinto como um lúcido e louco cão danado, uma ânsia de tanto morder como lamber quem de mim se aproxima, trago tantos mundos, cheiros e imagens dentro de mim, que já não sei distinguir quais eu sonhei e quais eu de facto vivi, sei que sou fiel à minha casa que nunca desisti de reencontrar...e tenho tantas saudades dela...ainda que não saiba por onde mais a procurar...
The only people for me are the mad ones
They danced down the streets like dingledodies, and i shambled after as i've been doing all my life after people who interest me, because the only people for me are the mad ones, the ones who are mad to live, mad to talk, mad to be saved, desirous of everything at the same time, the ones that never yawn or say a commonplace thing, but burn, burn, burn like fabulous yellow roman candles exploding like spiders across the stars and in the middle you see the blue centerlight pop and everybody goes "Awww!"
Jack Kerouac
Jack Kerouac
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
love is just a shout into the void
“I'm in love with you," he said quietly.
"Augustus," I said.
"I am," he said. He was staring at me, and i could see the corners of his eyes crinkling. "I'm in love with you, and i'm not in the business of denying myself the simple pleasure of saying true things. I'm in love with you, and i know that love is just a shout into the void, and that oblivion is inevitable, and that we're all doomed and that there will come a day when all our labor has been returned to dust, and i know the sun will swallow the only earth we'll ever have, and i am in love with you.” ...
― John Green, The Fault in Our Stars
"Augustus," I said.
"I am," he said. He was staring at me, and i could see the corners of his eyes crinkling. "I'm in love with you, and i'm not in the business of denying myself the simple pleasure of saying true things. I'm in love with you, and i know that love is just a shout into the void, and that oblivion is inevitable, and that we're all doomed and that there will come a day when all our labor has been returned to dust, and i know the sun will swallow the only earth we'll ever have, and i am in love with you.” ...
― John Green, The Fault in Our Stars
my dear i believe we could fix our broken winds...
Caminho na desordem de não encontrar lugar nem sentido para a vida que se faz nesta idade que fere e foge...a vida é tão curta para tanto desencontro e tão grande esquecimento...oxalá amanhã eu te encontre outra vez antes do universal sono nos apanhar enquanto vivemos outra coisa qualquer, mas até lá deixa-te ficar só mais um bocadinho na penumbra das coisas esquecidas e reinventadas pode ser que assim façamos mais sentido. À luz deste crepúsculo consigo adivinhar-te o corpo e vislumbrar-te a alma. No sitio exacto das agressões há um par de asas que secretamente cresce...
sábado, 16 de novembro de 2013
À hora do cansaço
Ao fim da tarde
À hora do cansaço
Quando a vida é feita de perdas De regressos impossíveis
E apetece chorar ou fugir
Abro a janela do quarto
E desato por aí fora
À nossa procura...
“There were always in me, two women at least, one woman desperate and bewildered, who felt she was drowning and another who would leap into a scene, as upon a stage, conceal her true emotions because they were weaknesses, helplessness, despair, and present to the world only a smile, an eagerness, curiosity, enthusiasm, interest.”
― Anaïs Nin
terça-feira, 12 de novembro de 2013
Ever Rest
“I'm holding to nothing
Repeat my destruction
Inside voices taunt me
Just holding to nothing...
Repeat my destruction
Inside voices taunt me
Just holding to nothing...
um bom poema funciona como betadine para as feridas da alma, ajuda a desinfetá-las e a limpá-las das impurezas da tristeza e no final cicatriza tudo muito melhor...mas não os poemas do Pessoa, esses escarafuncham as feridas, o tipo é mórbido e obsessivo e é essa a sua beleza, no entanto hj queria poemas com outro tipo de vida por dentro para afastar estas paisagens da morte em visita (se bem que a chatice da morte é para quem fica por cá fica vivo a ganir por quem se vai...é claro que é sempre mais interessante estar-se vivo do que estar-se morto, sempre acontecem mais coisas :P mas a maior parte das coisas que acontecem são de uma maçada e de uma canseira indescritível , até os excessos que cometemos...poças ainda bem que se morre, eu n me importo nada de morrer, a chatice é ver os outros morrer 1º...) mas voltando ao Pessoa, esta alien aqui adora o gajo, mas esta coisa do Pessoa as vezes poe-me doente pq ele quer mas não quer, é um tipo no fundo apático, a vida física esgotou-se-lhe com tanta vida interior imaginada, com tanto excesso intelectualizado, mirrou-se-lhe a energia vital toda, apetece abaná-lo por dentro da escrita e sussurrar-lhe ao ouvido das palavras: bora lá my dear bora fazer pessoinhas e little aliens nas paginas do texto... mas não, o Pessoa ia recusar-se horrorizado, conheço-lhe bem a sua sensibilidade, toda ela é uma armadilha...mas é uma boa armadilha, vale sempre a pena cair nela :)
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
Passagem das Horas
“Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos(...)
Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,
Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida.
Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços,
É preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas (...)
Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca(...)
Vi todas as coisas, e maravilhei-me de tudo,
Mas tudo ou sobrou ou foi pouco - não sei qual - e eu sofri.
Vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos,
E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse.
Amei e odiei como toda gente,
Mas para toda a gente isso foi normal e instintivo,
E para mim foi sempre a exceção, o choque, a válvula, o espasmo.
Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
Despi-me, entreguei-me,
E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente.
Todos os amantes beijaram-se na minh'alma,
Todos os vadios dormiram um momento em cima de mim,
Todos os desprezados encostaram-se um momento ao meu ombro,
Atravessaram a rua, ao meu braço, todos os velhos e os doentes,
E houve um segredo que me disseram todos os assassinos.
Sentir tudo de todas as maneiras,
Ter todas as opiniões,
Ser sincero contradizendo-se a cada minuto,
Desagradar a si próprio pela plena liberalidade de espírito,
E amar as coisas como Deus.
E falta sempre uma coisa, um copo, uma brisa, uma frase,
E a vida dói quanto mais se goza e quanto mais se inventa.“
Álvaro de Campos,
Não sei se sinto de mais ou de menos(...)
Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,
Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida.
Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços,
É preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas (...)
Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca(...)
Vi todas as coisas, e maravilhei-me de tudo,
Mas tudo ou sobrou ou foi pouco - não sei qual - e eu sofri.
Vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos,
E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse.
Amei e odiei como toda gente,
Mas para toda a gente isso foi normal e instintivo,
E para mim foi sempre a exceção, o choque, a válvula, o espasmo.
Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
Despi-me, entreguei-me,
E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente.
Todos os amantes beijaram-se na minh'alma,
Todos os vadios dormiram um momento em cima de mim,
Todos os desprezados encostaram-se um momento ao meu ombro,
Atravessaram a rua, ao meu braço, todos os velhos e os doentes,
E houve um segredo que me disseram todos os assassinos.
Sentir tudo de todas as maneiras,
Ter todas as opiniões,
Ser sincero contradizendo-se a cada minuto,
Desagradar a si próprio pela plena liberalidade de espírito,
E amar as coisas como Deus.
E falta sempre uma coisa, um copo, uma brisa, uma frase,
E a vida dói quanto mais se goza e quanto mais se inventa.“
Álvaro de Campos,
domingo, 3 de novembro de 2013
Skinny Love
“And now all your love is wasted and who the hell was i?
I'm breaking at the bridges and at the end of all your lines
Who will love you?
Who will fight?
Who will fall far behind?...”
I'm breaking at the bridges and at the end of all your lines
Who will love you?
Who will fight?
Who will fall far behind?...”
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
"A decisão sobre o exercício de felicidade- ou sobre o índice dessa sensação na vida de Teresa- foi tomada quando esta completou 14 anos. Deus considerou que era uma idade justa. Não era uma criança, nao era exactamente um adulto. O pai acabara de deixar a casa em silencio, retirando-se à força, escoltado por 2 polícias à paisana. Para se entreter, ela decidira fazer arroz-doce sem ovos, com raspas de limão e açúcar amarelo, distraindo a irmã mais nova nas delícias do tacho, mexer, mexer sempre com cuidado. A mãe permanecera no quarto, paredes meias com a sala. Ouviu-a a gemer quando a porta da rua se fechou com o fim da violência. Com o seu corpo franzino, cabelo preso na nuca com um elastico velho, Teresa abandonou a cozinha dizendo para a irmã:
-Não deixes de mexer ou queimas o fundo ao tacho. Se parares de mexer estragas tudo.
Aproximou-se do quarto da mãe, bateu à porta, apenas um toque ligeiro, uma intenção. Sentou-se na cama ao seu lado e começou a contar:
-Quando eu tinha dois anos caí ao rio. Era muito pequena, andava de fraldas
-Sim filha
- O cão salvou-me.
-Pois foi eu lembro-me.
-Isso faz de mim uma pessoa diferente mãe. Sei coisas que tu nao sabes e vou dizer-te agora como vais viver a tua vida.
A mãe passou a mão pela cara, um gesto cansado, uma intensa dor indizível. Tudo o que fizera para proteger as filhas terminara naquele minuto anterior. Não queria falar sobre isso. Estranhava o cheiro adocicado que invadia a casa. Quis levantar-se, mas sem coragem encarou a filha mais velha com os olhos azuis sem fim. Deus sentiu um aperto no peito. A menina-mulher disse:
-Estamos sempre sós mãe. Sempre. Mas estamos sempre juntas, naõ é? E agora vamos ser felizes.
- E o que é ser feliz?
- Vamos fazer uma lista. Ser feliz é o arroz doce que vamos comer ao jantar. Ser feliz é o conjunto de lençóis brancos que vais estrear hoje na tua cama de solteira. Ser feliz é saberes que estás aqui
- Onde é que descobriste essas coisas todas filha?
- Nos livros. Quando quiseres estar triste e chorar dou-te livros para chorares. Na vida vais ser feliz.
-Assim de repente?
-Assim de repente."
Patricia Reis no conto " A Felicidade deles"
-Não deixes de mexer ou queimas o fundo ao tacho. Se parares de mexer estragas tudo.
Aproximou-se do quarto da mãe, bateu à porta, apenas um toque ligeiro, uma intenção. Sentou-se na cama ao seu lado e começou a contar:
-Quando eu tinha dois anos caí ao rio. Era muito pequena, andava de fraldas
-Sim filha
- O cão salvou-me.
-Pois foi eu lembro-me.
-Isso faz de mim uma pessoa diferente mãe. Sei coisas que tu nao sabes e vou dizer-te agora como vais viver a tua vida.
A mãe passou a mão pela cara, um gesto cansado, uma intensa dor indizível. Tudo o que fizera para proteger as filhas terminara naquele minuto anterior. Não queria falar sobre isso. Estranhava o cheiro adocicado que invadia a casa. Quis levantar-se, mas sem coragem encarou a filha mais velha com os olhos azuis sem fim. Deus sentiu um aperto no peito. A menina-mulher disse:
-Estamos sempre sós mãe. Sempre. Mas estamos sempre juntas, naõ é? E agora vamos ser felizes.
- E o que é ser feliz?
- Vamos fazer uma lista. Ser feliz é o arroz doce que vamos comer ao jantar. Ser feliz é o conjunto de lençóis brancos que vais estrear hoje na tua cama de solteira. Ser feliz é saberes que estás aqui
- Onde é que descobriste essas coisas todas filha?
- Nos livros. Quando quiseres estar triste e chorar dou-te livros para chorares. Na vida vais ser feliz.
-Assim de repente?
-Assim de repente."
Patricia Reis no conto " A Felicidade deles"
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